Eliane Wahl viveu por anos em um sítio no Vale do Ribeira, no interior paulista. Hoje, ela é conhecida por criar receitas com alimentos regionais e ensinou a fazer um pudim de palmito.
A infância na zona rural de Cajati, no interior de São Paulo, despertou a paixão de uma jovem pela culinária. Na época, Eliane Nunes Wahl vivia com os pais e os irmãos em meio a natureza e a comida caseira. A vida no campo, porém, impediu que jovem conseguisse ir à escola e ela só conseguiu se formar aos 36 anos. A menina que cozinhava escondido dos pais, conseguiu concluir a faculdade de Gastronomia e hoje cria receitas com produtos cultivados no Vale do Ribeira para mostrar ao mundo os sabores da sua terra.
Eliane nasceu em Pariquera-Açú e, aos 7 anos, foi morar no sítio em Cajati. Esse foi o lugar onde ela tem as melhores lembranças da infância. O gosto pela culinária nasceu na adolescência. “Meus pais sempre cozinharam. Eu via muito amor naquilo que eles faziam. Parecia que era a melhor comida do mundo, o jeito de eles cozinharem. E eu queria isso para mim. Eles faziam com tanto carinho e amor”
As primeiras receitas, ela fazia escondida dos pais. Ela esperava os dois saírem para trabalhar e tentava fazer preparos no fogão a lenha. A receita preferida era a torta de palmito. Ela lembra que, certa vez, colheu o palmito junto com os irmãos e preparou a torta. No final, esquece do fermento. Mesmo assim, a torta terminou antes mesmo dos pais chegarem em casa.
“Minha mãe com a minha avó, elas faziam muito a torta de palmito. Essa é a que traz as raízes da gente. Quando a gente quer se encontrar, a gente se liga e minha mãe faz a torta para a gente”, conta. “Às vezes, eu procuro sentir o sabor daqueles pratos”
Por estar longe das escolas, Eliane só começou a estudar aos 10 anos. A vida na zona rural impediu que ela conseguisse conciliar o trabalho no campo com os estudos. Por isso, ela teve que deixar de frequentar a escola. Aos 36 anos, Eliane voltou aos bancos escolares e ingressou na Educação de Jovens e Adultos.
Formada, ela foi realizar o sonho de ter uma faculdade. Elaine fez parte da primeira turma do curso de Gastronomia do Centro Universitário do Vale do Ribeira (UNIVR).
“Foi que eu vi que era o que eu queria realmente. Comecei a desenvolver os produtos da região. É a minha paixão. Pode me pedir qualquer coisa, mas eu vou dar o meu toque, com produtos da região”.
Chef Eliane e a mãe Irineide, que sempre provou as receitas e torceu pelo sucesso da filha
Chef Eliane e a mãe Irineide, que sempre provou as receitas e torceu pelo sucesso da filha
Ela conta que encontrou resistência de outras pessoas quando começou a criar receitas com alimentos cultivados no Vale do Ribeira. A região é a principal produtora de bananas do Estado de São Paul, com a maior área em extensão com o plantio de bananeiras, cerca de 35,6 mil hectares. Depois, vem o palmito de pupunha com mais de 7 mil hectares cultivados na região.
“Foi difícil, você tentar colocar na cabeça das pessoas que dá para trabalhar e continuar no Vale. Muitas pessoas terminam (a faculdade) e querem ir para fora. Eles não sabem o valor que o nosso Vale tem”, diz Eliane. Ao criar as receitas, ela imagina como fazer os ingredientes que vem da sua terra brilhar no prato das pessoas. “Eu peguei amor pelos produtos, por cada produto”, diz ela.
Palmito cristalizado, criação da chef de cozinha Elaine Whal
Palmito cristalizado, criação da chef de cozinha Elaine Whal
Receitas
Eliane já criou dezenas de receitas com ingredientes como a banana, o palmito, muçarela de búfala e a cataia, que uma planta nativa da Mata Atlântica, em especial nas regiões montanhosas e costeiras do Vale do Ribeira. Ela também elabora receitas com parte desses alimentos que seriam descartadas, visando a sustentabilidade e a economia criativa.
Uma das receitas mais famosas de Eliane é o palmito cristalizado. Ele é doce, em formato de cubos e muito parecido com as frutas cristalizadas, mas feito com palmito. Ela ainda prepara a torta de palmito e o brigadeiro de palmito. Ao g1, Eliane ensinou a fazer o pudim de palmito, outra receita que desperta o interesse das pessoas (confira a receita abaixo ou no vídeo no início da reportagem).
Brigadeiro de cataia, criado pela chef Eliane Wahl
Brigadeiro de cataia, criado pela chef Eliane Wahl O brigadeiro de cataia e o licor de cataia também fazem sucesso. Neles, é possível sentir o sabor adocicado com um toque amarguinho da mistura de cachaça com folhas da cataia. “Cada amiga gosta de uma coisa diferente. O carro-chefe é o cristalizado [palmito] e o licor de cataia”.
Hoje, Eliane mora em Registro, mas não vive totalmente da gastronomia. Ela prepara menus completos para eventos e participa de feiras, onde expõe e vende seus produtos. Mas, ela sonha em expandir os negócios e viver apenas da sua paixão, a culinária do Vale do Ribeira.